A Mão do Macaco é um conto de terror antigo escrito por W.W Jacobs. Seu conto pode ser encontrado no livro Contos de Horror do século XIX, onde o argentino naturalizado canadense Alberto Manguel seleciona 33 contos do gênero em uma única obra.
Confira abaixo o primeiro capítulo do Conto, e baixe a obra completa no fim da postagem.
A Mão do Macaco
W.W Jacobs
I
Lá fora, a noite estava
fria e úmida, mas na pequena sala de visitas de Labumum Villa os postigos
estavam abaixados e o fogo queimava na lareira. Pai e filho jogavam xadrez: o
primeiro tinha ideias sobre o jogo que envolviam mudanças radicais, colocando o
rei em perigo tão desnecessário que até provocava comentários da velha senhora
de cabelos brancos, que tricotava serenamente perto do fogo.
– Ouça o vento — disse
o Sr. White, que, tendo visto tarde demais um erro fatal, queria evitar que o
filho o visse.
– Estou escutando —
disse o último, estudando o tabuleiro ao esticar a mão.
– Xeque.
– Eu duvido que ele
venha hoje à noite — disse o pai, com a mão parada em cima do tabuleiro.
– Mate — replicou o
filho.
– Essa é a desvantagem
de se viver tão afastado — vociferou o Sr. White, com uma violência súbita e
inesperada. — De todos os lugares desertos e lamacentos para se viver, este é o
pior. O caminho é um atoleiro, e a estrada uma torrente. Não sei o que as
pessoas têm na cabeça. Acho que, como só sobraram duas casas na estrada, elas
acham que não faz mal.
– Não se preocupe,
querido — disse a esposa em tom apaziguador. — Talvez você ganhe a próxima
partida.
O Sr. White levantou os
olhos bruscamente a tempo de perceber uma troca de olhares entre mãe e filho.
As palavras morreram em seus lábios, e ele escondeu um sorriso de culpa atrás
da barba fina e grisalha.
– Aí vem ele — disse
Herbert White, quando o portão bateu ruidosamente e passos pesados se
aproximaram da porta.
O velho levantou-se com
uma pressa hospitaleira e, ao abrir a porta, foi ouvido cumprimentando o recém-chegado.
Este também o cumprimentou, e a Sra. White tossiu ligeiramente quando o marido
entrou na sala, seguido por um homem alto e corpulento, com olhos pequenos e
nariz vermelho.
– Sargento Morris —
disse ele, apresentando-o.
O sargento apertou as
mãos e, sentando-se no lugar que lhe ofereceram perto do fogo, observou
satisfeito o anfitrião pegar uísque e copos, e colocar uma pequena chaleira de
cobre no fogo.
Depois do terceiro
copo, seus olhos ficaram mais brilhantes, e ele começou a falar, o pequeno
círculo familiar olhando com interesse este visitante de lugares distantes,
quando ele empertigou os ombros largos na cadeira e falou de cenários selvagens
e feitos intrépidos: de guerras, pragas e povos estranhos.
– Vinte e um anos nessa
vida — disse o Sr. White, olhando para a esposa e o filho. — Quando ele foi
embora era um rapazinho no armazém. Agora olhem só para ele.
– Ele não parece ter
sofrido muitos reveses — disse a Sra. White amavelmente.
– Eu gostaria de ir à
Índia — disse o velho — só para conhecer, compreende?
– Você está bem melhor
aqui — disse o sargento, sacudindo a cabeça. Pôs o copo vazio na mesa e,
suspirando baixinho, sacudiu a cabeça novamente.
– Eu gostaria de ver
aqueles velhos templos, os faquires e os nativos — disse o velho. — O que foi
que você começou a me contar outro dia sobre uma mão de macaco ou algo assim
Morris?
– Nada — disse o
soldado rapidamente. — Não é nada de importante.
– Mão de macaco? —
perguntou a Sra. White, curiosa.
– Bem, é só um pouco do
que se poderia chamar de magia, talvez — disse o sargento com falso ar
distraído.
Os três ouvintes
debruçaram-se nas cadeiras interessados. O visitante levou o copo vazio à boca
distraidamente e depois recolocou-o onde estava. O dono da casa tornou a enche–lo.
– Olhando para ela, não
passa de uma mão comum, seca e mumificada – disse o sargento, mexendo no bolso.
Tirou algo e mostrou. A sra. White recuou com uma careta, mas o filho pegou
aquilo e examinou com curiosidade.
– E o que há de
especial nela? — perguntou o Sr. White ao pegá–la da mão do filho e, depois de
examiná–la, colocá–la sobre a mesa.
– Foi encantada por um
velho faquir — disse o sargento –, um homem muito santo. Ele queria provar que
o destino regia a vida das pessoas, e que aqueles que interferissem nele seriam
castigados. Fez um encantamento pelo qual três homens distintos poderiam fazer,
cada um, três pedidos a ela.
A maneira dele ao dizer
isso foi tão solene que os ouvintes perceberam que suas risadas estavam um
pouco fora de propósito.
– Bem, por que não faz
os seus três pedidos, senhor? — disse Herbert White astutamente.
O soldado olhou para
ele como olham as pessoas de meia–idade para um jovem presunçoso.
– Eu fiz — disse ele
calmamente, e seu rosto marcado empalideceu.
– E teve mesmo os três
desejos satisfeitos? — perguntou a Sra. White.
– Tive — disse o
sargento, e o copo bateu nos dentes fortes.
– E alguém mais fez os pedidos?
— insistiu a senhora.
– A primeira pessoa
teve os três desejos atendidos, sim. Não sei quais eram os dois primeiros, mas
o terceiro era a morte. Foi desse modo que consegui a mão do macaco.
Seu tom de voz era tão
grave que o silêncio caiu sobre o grupo.
– Se você conseguiu
realizar os três desejos, ela não serve mais para você Morris — disse o velho
finalmente. — Para que você ainda está com ela?
O soldado meneou a
cabeça.
– Por capricho, suponho
— disse lentamente.
– Se você pudesse fazer
mais três pedidos — disse o velho, olhando para ele atentamente –, você os
faria?
– Eu não sei – O
sargento pegou a mão do macaco e balançou-a entre o dedo indicador e o polegar.
Subitamente, jogou-a às chamas que crepitavam na lareira. White, com um ligeiro
grito, abaixou-se e tirou-a de lá.
– É melhor deixar queimar
— disse o soldado solenemente.
– Se você não quer
mais, Morris, dê para mim.
– Não — disse o amigo com
firmeza. — Eu a joguei no fogo. Se você ficar com ela, não me culpe pelo que
acontecer. Jogue isso no fogo outra vez, como um homem sensato.
O outro sacudiu a
cabeça e examinou sua nova aquisição atentamente.
– Como você faz para
pedir? — perguntou.
– Segure-a na mão
direita e faça o pedido em voz alta — disse o sargento –, mas eu o advirto
sobre as consequências.
– Parece um conto das
Mil e uma noites — disse a Sra. White, ao se levantar e começar a pôr o jantar
na mesa. — Você não acha que deveria pedir quatro pares de mãos para mim?
– Se quer fazer um
pedido — disse ele asperamente –, peça algo que faça sentido.
O Sr. White colocou a mão no bolso novamente
e, arrumando as cadeiras, acenou para que o amigo fosse para a mesa. Durante o
jantar o talismã foi parcialmente esquecido, e depois os três ficaram
escutando, fascinados, um segundo capítulo das aventuras do soldado na Índia.
– Se a história sobre a
mão de macaco não for mais verdadeira do que as que nos contou — disse Herbert,
quando a porta se fechou atrás do convidado, que partiu a tempo de pegar o
último trem–, nós não devemos dar muito crédito a ela.
– Você deu alguma coisa
a ele por ela? — perguntou a Sra. White, olhando para o marido atentamente.
– Pouca coisa — disse
ele, corando ligeiramente. — Ele não queria aceitar, mas eu o fiz aceitar. E
ele tornou a insistir que eu jogasse fora.
– É claro — disse
Herbert, fingindo indignação. — Ora, nós vamos ser ricos, famosos e felizes.
Peça para ser um imperador, papai, para começar, então você não vai ser mais
dominado pela esposa.
Ele correu em volta da
mesa, perseguido pela Sra. White armada com uma capa de poltrona. O Sr. White
tirou a mão de macaco do bolso e olhou para ela dubiamente.
– Eu não sei o que
pedir, é um fato — disse lentamente. — Eu acho que tenho tudo o que quero.
– Se você acabasse de
pagar a casa ficaria bem feliz, não ficaria? — disse Herbert, com a mão no
ombro do pai. — Bem, peça duzentas libras, é o que falta.
O pai, sorrindo,
envergonhado da própria ingenuidade, ergueu o talismã enquanto o filho, com um
olhar solene de certa forma adulterado por um piscar de olhos para a mãe,
sentou-se ao piano e tocou alguns acordes solenes.
– Eu desejo duzentas
libras — disse o velho distintamente.
Um rangido do piano
seguiu-se às palavras, interrompido por um grito estridente do velho. A mulher
e o filho correram até ele.
– Ela se mexeu — gritou
ele, com um olhar de nojo para o objeto caído no chão. — Quando eu fiz o
pedido, ela se contorceu na minha mão como uma cobra.
– Bem, eu não vejo o
dinheiro — disse o filho ao pegá–la e colocá–la em cima da mesa — e aposto que
nunca vou ver.
– Deve ter sido
imaginação sua — disse a esposa, olhando para ele ansiosamente.
Ele sacudiu a cabeça.
– Não faz mal, não
aconteceu nada, mas a coisa me deu um susto assim mesmo.
Eles se sentaram perto
do fogo novamente enquanto os dois homens acabavam de fumar cachimbos. Lá fora,
o vento zunia mais do que nunca, e o velho teve um sobressalto com o barulho de
uma porta batendo no andar de cima. Um silêncio estranho e opressivo abateu-se
sobre todos os três, e perdurou até o velho casal se levantar e ir dormir.
– Eu espero que vocês
encontrem o dinheiro dentro de um grande saco no meio da cama — disse Herbert,
ao lhes desejar boa noite — e algo terrível agachado em cima do armário
observando vocês guardarem seu dinheiro maldito.
Herbert permaneceu
sentado no escuro, contemplando o fogo se extinguir, vendo rostos nas chamas. A
última face era tão horrenda e simiesca que ele a contemplou assombrado. Surgiu
tão expressiva que, com um riso nervoso, procurou na mesa um copo com água para
jogar sobre ela. Agarrou a mão do macaco e, com um leve calafrio, limpou a mão
no casaco e foi para a cama.
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Parece legal, mas pelo link não consegui baixar. :(
ResponderExcluirCuriosa
Olá Érica!!
ExcluirIsso acontece por que é necessário ter conta no 4shared pra conseguir baixar o arquivo. Mas não se preocupe, acabei de atualizar os links e agora também tem o conto online no Google Drive!
Espero que goste da história! :D
Até mais!
Baixei :3
ResponderExcluirOk, querida. Espero que se divirta com a leitura! ^-^ Obrigada pela visita no nosso blog. :D
ExcluirEstou desesperado à procura do livro "Contos de horror do século XIX"e não encontro em lugar nenhum. T_T
ResponderExcluirEncontrei uma exemplar no mercadolivre por R$ 390,00 rs
Livro raro. Acho que vou aproveitar e comprar esse mesmo.