31.10.13

Entrevista com Júlio Akira Taguchi


Olá, pimpolhos, sou a nova integrante da equipe da Biblioteca de Fanfictions, muito prazer, Ana Carolina. Tenho o prazer de iniciar aqui com uma entrevista exclusiva com um cronista renomado do AnimeSpirit, conhecido por muitos, detestado por alguns e adorado por elas: Júlio Akira Taguchi, vulgo DrLecter.
Autor de crônicas normalmente ácidas e cheias de sátiras e cinismo, com um vasto currículo de textos impressionantes que devem ser lidos, com canalhas/cafajestes sem um pingo de decência na vida mas sempre a dizer verdade e quebrar paradigmas impostos pela sociedade, Júlio tem apenas 20 anos, no entanto, é digno de estar no grupo dos mais seletos cronistas. De descendência japonesa, o jovem e promissor escritor reside em Ourinhos, uma cidade no interior do estado de São Paulo.
Com um pouco de sorte, devido ao seu tempo super reduzido disponível na internet, ele nos concedeu esta entrevista via Skype:

Biblioteca de Fanfictions: Júlio, com quantos anos você começou a escrever?
Júlio Taguchi: Eu escrevo desde que me conheço por gente. Na verdade, as minhas lembranças mais antigas são as minhas primeiras palavras escritas, quando eu tinha três anos, depois de espiar as lições da minha irmã. Eu gostava muito de reinventar as histórias e filmes que eu gostava. Colocava novos personagens, dava fins diferentes e às vezes, criava continuações. E isso se estendeu pelo resto da infância. Aos quatorze, eu conheci as fanfics, mas só comecei a escrever de maneira mais séria aos dezessete.

BdF: Lembra-se da sua escrita bem no início?
JT: Lembro, e mudou muito desde lá. De alguma maneira, meus professores sempre repararam em alguma coisa diferente na minha escrita e nas histórias que eu escrevia. Eles foram bastante importantes para que eu fizesse um pouco do que eu faço hoje. De vez em quando, eu pego o que escrevi com quinze anos e tenho até vergonha do que fiz.

BdF: Todos temos... Guarda todos os textos que já escreveu?
JT: Nem sempre. Os primeiros que eu fiz, aos treze, já se perderam com todas as mudanças que eu fiz. As formatações no meu computador também já levaram muitos trabalhos e alguns nunca saíram do papel. A maioria fica guardada nos meus arquivos da internet, postada no AS ou no HD. Os que eu não gosto geralmente vão para a lixeira.

BdF: Já deletou muitos?
JT: Você nem faz ideia de quantos.

BdF: Continuando por essa via: Qual o seu texto preferido? E o que menos gosta? E por quê?
JT: Eu não tenho um texto preferido. Na verdade, dificilmente gosto de alguma coisa que eu faço. Alguns eu chego a odiar, e esses são descartados. Os outros eu mantenho, só para caso de alguém acabar gostando. Mas alguns textos são especiais para mim. "Esse cara (não) sou eu" é um deles. Para mim, a crônica é como um marco na minha escrita. Foi o começo do que a minha escrita é hoje.

BdF: Tipo "Nosso Lugar"?
JT: Não. “Nosso Lugar” é uma crônica que nunca teria saído do papel, se não fosse por insistência e ameaça de algumas pessoas aí. Esse é o único motivo que me fez deixar a crônica lá. De resto, não gosto muito dela.

BdF: No AnimeSpirit você é um cronista consagrado entre “elas”. Praticamente 97% dos seus fãs são do público feminino. Como lida com isso? Há assédio?
JT: Então, né. Eu não acho que eu seja, de alguma forma, consagrado entre elas. É simplesmente o fato de que em geral, garotas leem mais que garotos. Você vê isso em qualquer fanfic por lá. E assédio. Seria mais fácil perguntar “Que assédio?”. Eu não preciso lidar com isso, porque assédio simplesmente não existe. A maioria das garotas que leem os meus trabalhos já me conhece de outras ocasiões. E as que só me conhecem pelas crônicas não fazem nenhum tipo de assédio.

BdF: E quanto aos rapazes? O que acha deles lendo suas crônicas?
JT: Olha, eu só tenho dois leitores, pelo que conheço. O Lucas e o Filippi. Eles, em geral, ficam meio assustados com a mente masculina exposta daquela forma nas minhas crônicas, e segundo eles mesmos, leem aquilo sempre sacudindo a cabeça e dizendo “É verdade”. O mais engraçado é que eles são um dos poucos que geralmente concordam com os meus protagonistas que despertam vontades de socar nas minhas leitoras.

BdF: Por que suas leitoras desejam socar a cara de seus protagonistas? Alguma ideia sobre isso?
JT: Principalmente o fato de a maioria deles vai contra todos os ideais de romantismo e relação que muitas pessoas - não só mulheres - têm. Meus protagonistas não só questionam estes ideais: eles zombam de cada um deles. Isso, de certa forma, choca as leitoras e causa reações variadas, mas muito divertidas de se ver. Eu, particularmente, rio bastante.

BdF: Isso se diz a respeito da acidez que possui suas crônicas?
JT: E dos canalhas também.

BdF: Pretende viver da sua escrita?
JT: Eu não sei, sinceramente.  A escrita é uma coisa que eu amo, mas que eu dificilmente encararia como um meio de vida. Eu gosto de criar na hora que quero e do jeito que quero, sem ninguém me dizendo que eu tenho que fazer assim ou assado. E isso, querendo ou não, acontece muito quando você vive da escrita. Além do mais, eu gosto daquele clima de informalidade do AnimeSpirit. É quase uma roda de amigos em que você pode sentar e compartilhar seus trabalhos com outras pessoas que também escrevem. E isso pra mim já é o suficiente. Ter um livro publicado seria ótimo, não nego, mas isso nunca fez de ninguém escritor.

BdF: Muitos sabem que Caixa de Memórias é seu projeto mais ousado atual, que conta a história de uma música jovem e renomado que na primeira parte retorna para a cidade natal devido à um motivo especial. Como surgiu a ideia para todo o enredo? Sem spoilers, por favor.
JT: A ideia para “Caixa de Memórias” surgiu há uns três anos atrás, durante uma aula de Português. Na época, era bem diferente. Daniel era um músico que vivia longe da família e voltava para o funeral do irmão mais velho, que era o único vínculo que ele tinha com a família. Se eu falar mais, vou soltar spoiler.

BdF: As teorias de Daniel Vieira tanto sobre vida, mulheres e religião são as suas próprias?
JT: Quase nenhuma.  Apesar de não ter uma religião oficial, não sou tão radical quanto ele, embora eu concorde com algumas coisas dele. Sobre a vida... uma coisa ou outra, apenas. E sobre as mulheres, absolutamente nada. Na verdade, Daniel foi um protagonista que começou a me irritar a certa altura da história. Foi uma coisa muito engraçada, porque eu estava detestando ele, mas não conseguia parar de escrever.

BdF: Pretende publicá-lo sob a forma de livro?
JT: Talvez, um dia. Eu pretendo terminar de postar a história no AS, deixá-la lá por um tempo e depois ver no que dá. Talvez eu a reescreva, talvez não. Tudo vai depender do meu humor.

BdF: Suas crônicas então dependem do seu humor, certo?
JT: Não exatamente. Eu sou totalmente adepto da filosofia de Fernando Pessoa. O escritor é um tremendo mentiroso. Ponto final. Embora seja bem comum que o humor influencie, na maioria das vezes, é tudo fingimento. Sou contra essa exposição excessiva que muita gente tem quando vai escrever. Quando escrevo, invento, não desabafo. Qualquer coisa que chegue perto de um desabafo pessoal é deixada de lado e provavelmente nunca será publicada.

BdF: Você tem um conto postado em um livro – A Borboleta Azul, publicado em “Contos de Grandes Autores Brasileiros” de outubro de 201, pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Qual foi a sensação e/ou emoção que sentiu ao saber disso?
JT: Foi gratificante, e ao mesmo tempo paradoxal. É legal ver seu trabalho publicado junto com o trabalho de tanta gente que faz coisas legais. Lembrando agora, eu era o mais novo escritor da coletânea, e isso foi bastante significativo pra mim, estar num livro com escritores vinte, trinta anos mais velhos que eu. Mas ao mesmo tempo, foi um pouco paradoxal, porque o conto não era bem o meu preferido. Mas é uma coisa bastante comum quando você escreve: geralmente, o que mais faz sucesso é aquele que você nem gosta tanto. Como aconteceu com “Nosso lugar”.

BdF: Além de escritor, você atua em peças de teatro, toca violão... e o que mais?
JT: E só.  Eu já atuei em algumas peças de teatro durante o ensino médio, mais foi só isso. E além de violão, toco mais três instrumentos: violoncello, teclado e gaita. Não é nada muito profissional, só algo pouco acima de barulho irritante. Vamos dizer que eu tenho uma veia artística bastante forte, embora não tenha pretensão alguma de viver disso.

BdF: Algo a acrescentar?
JT: Sou viciado em RPG, tenho um gosto musical absurdamente diversificado e louco por comida.XD


BdF: A equipe agradece a entrevista, Júlio. Até uma próxima.

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